Um Breve Mergulho no Ecossistema de Inovação em Biotecnologia e Biodiversidade do Amazonas
13/11/2019
No período de 06 a 08 de novembro desse ano aconteceu o primeiro Congresso de Biotecnologia e Biodiversidade da Amazônia (CBBA), um evento que, de acordo com o programa, tinha como objetivo apresentar a biotecnologia sob o olhar do empreendedorismo. O evento reunião grandes nomes da biotecnologia brasileira, empreendedores, gestores, acadêmicos e alunos para apresentaram seus projetos e como exploravam a biodiversidade da região para a geração de negócios. Como entusiasta do tema, me preparei para chegar dois dias antes e conhecer as incubadoras e aceleradoras no intuito de encontrar novidades em diferentes segmentos, em particular medicamentos e cosméticos, haja vista a riqueza da floresta e o potencial que novas moléculas teriam na revolução de destas áreas.
Ao fazer uma busca na internet, foram localizadas diversas incubadoras e aceleradoras, mas as que tinham como escopo de atuação a biotecnologia e a biodiversidade foram apenas as seguintes:
Centro de Desenvolvimento Empresarial e Tecnológico (CDTECH/UFAM)
Instituto Nacional de Pesquisa do Amazonas (INPA)
Instituto de Desenvolvimento Tecnológico (INDT)
FABRIQ
AYTY/IFAM
Centro de Incubação e Desenvolvimento Empresarial (CIDE)
De todos os e-mails e tentativas de contato que fiz previamente, apenas o CIDE respondeu com interesse em apresentar as empresas sob sua responsabilidade. A instituição fica no pólo industrial de Manaus e congrega empresas que buscam explorar os recursos regionais para a produção de alimentos, bebidas, cosméticos e fitoterápicos. De fato, mini industrias se instalaram naquele espaço e a maioria com foco em exportação.
Me impressionou a maturidade em gestão de algumas startups, apesar de o grau de inovação tecnológica estar muito aquém do que eu esperava. Muitas empresas já performam em moeda estrangeira, com quase toda produção enviada para o exterior. Aliás, me deparei com novidades desconhecidas do resto do país, mas com mercado cativo na Europa e Estados Unidos, como frutos da floresta, minerais, ervas e outros produtos do extrativismo.
Apesar do acesso a poucas instituições no momento da visita, pude conhecer os empreendedores das demais empresas ao longo do evento e constatei que a grande maioria, de alguma forma, estão ligadas a instituições de ensino superior e/ou pesquisa. Mas, para a minha grata surpresa, observei que havia uma preocupação unânime com o desenvolvimento tecnológico e a criação de negócios para a geração de riqueza.
No dia 08/11, participei de uma mesa de discussões como os gestores de todas estas instituições e, apesar de todos pertencerem a uma geração que priorizava o academicismo da pesquisa, havia um esforço em romper com esse paradigma cultural. Aliás, foi mencionado, positivamente, que o período de contingenciamento de verbas para ensino e pesquisa adotados pelo governo elevou a entropia da maioria dos núcleos, obrigando-os a saírem da zona de comodismo e se conectarem com empresas para manterem suas atividades de P&D.
Uma crítica negativa que merece menção é o valor exorbitante atribuído a chancela “biodiversidade amazônica” atribuída aos produtos. De fato, os produtos, em geral, são comercializados sob um preço elevado, muitas vezes impeditivos, para competirem com produtos similares em outras regiões do país. A justificativa dada é que os insumos já chegam com preços inflacionados da floreta e virtude o grande número de intermediários ao longo da cadeia logística. Outra justificativa é que a logística entre a região amazônica e o resto do país ainda é precária, não havendo corredores rodoviários ágeis, nem tampouco ferroviários, sendo a via aérea a única solução.
É importante ressaltar que o programa de formação em recursos humanos nas áreas biotecnológicas, em particular a biotecnologia industrial, é bastante recente, quando comparado aos demais programas em outras regiões. A Universidade Federal do Amazonas (UFAM), tendo como mola propulsora o professor Spartaco Astolfi Filho, foi responsável pela construção desse programa de capacitação na região, que buscou unir os conceitos da biologia moderna com ferramentas da engenharia de processos e gestão tecnológica, para formar um profissional capaz de explorar a biodiversidade, materializar em produtos de valor comercial e fazer a gestão dos intangíveis.
É importante registrar que existem diversas INCT’s na região, com destaque para o Centro de biotecnologia da Amazônia (CBA), cuja vocação deveria ser alavancar a pesquisa de alto nível e conduzir iniciativas ao mercado. A instituição poderia conjugar pesquisa e empreendedorismo, permitindo um salto quântico na geração de novos negócios em biotecnologia na região, aproveitando a potencialidade da biodiversidade amazônica, sendo a maior parte ainda desconhecida da comunidade científica mundial.
Não foi dessa vez que pude ver inovações tecnologicamente avançadas, novas moléculas terapêuticas... vindas da imensidão da floresta. Quem sabe em futuro próximo essas oportunidades estejam bem desenvolvidas e disponíveis na região. De todo modo, essa experiência apenas me mostrou que a Amazônia é um berço de grandes potenciais oportunidades que irá requerer mais estrutura, mudança de cultura, divulgação e conexões. A semente foi plantada, agora é esperar para ver o que se poderá colher.
Autor: Luiz André Felizardo Silva Schlittler (Presidente Grupo Beta 1-4)
Grandes nomes da Biotecnologia Brasileira.
Da esquerda para a direita; Luiz Goulart (UFU), Fernando Araripe Torres (UNB); Luiz André Schlittler (Beta 1-4); Spartaco Astolfi Filho (UFAM); João Antônio Henriques (UFRGS).
Centro de Incubação e Desenvolvimento empresarial (CIDE)